sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O Pastor - O Início

Nada. É tudo o que eu ouço neste momento. É o silêncio mais insuportável que alguém poderia imaginar. O cano fumegante de Rita, minha Smith & Wesson Triple Lock .44, me lembra de minha sina, do meu Carma.

- Se você quer saber, não é de hoje que meu instinto assassino espanta as pessoas. Aos 9, matei um gato com uma fúria que só não era maior que o sorriso que carregava no rosto naquele momento. O espanto dos parentes já não foi tão grande quando tinha 14 e esmurrei um garoto que ousou caçoar de mim na escola. Os professores diziam que o exemplo vinha de casa, até hoje tenho dúvidas. Eu nunca fui covarde como meu pai. O imbecil bebia todo o dinheiro da família. Em casa, espancava minha mãe até ela desmaiar. Quando fiz 18, decidi que aquilo tinha que acabar. Na oportunidade que se seguiu, meu pai só teve tempo de erguer a mão até a bala do meu 44 morrer no seu peito. Pra garantir, tripliquei o serviço, cravando uma bala em cada olho do miserável.

- Esperava somente o agradecimento de minha mãe, porém, recebi um tapa na face que doeu mais do que se ela tivesse me atingido com uma faca afiada. Fui expulso de casa no mesmo instante. Naquela noite, não consegui dormir. Andei de bar em bar procurando amenizar minha agonia, porém só encontrei o fundo do copo. No último deles, arrumei uma confusão sem precedentes. Enquanto me atracava com 2 ou 3 brutamontes, não percebi o elemento escondido atrás de mim, que cravou uma bala de 38 na minha nuca - ou melhor, tentou. A bala bateu em meu crânio e rachou-se como se feita de giz. Todos fugiram assustados com a cena. Eu também tentei fugir. A minha primeira medida foi tentar de novo. peguei minha S & W .44 e atirei contra meu próprio peito. Qual foi minha surpresa ao ver o mesmo acontecer. Não sei se foi o excesso de bebida, mas aquilo me deu um novo propósito de vida. Juro que até enxerguei a vontade de Deus naquilo. Desde então tenho me dedicado a caçar persistentemente qualquer assassino que encontro pela frente. Uma vendeta alucinada, tentando preencher o vazio que me completa. Ja fui ferido algumas vezes. Nunca por balas. Não entendo até hoje o porquê de ter o corpo "fechado" contra projéteis. Nem se o terei até o fim da minha vida.

Sei que estou condenado. Quando Ele resolver me levar, tenho certeza que não vai ser para um bom lugar. Mas é o trabalho d’O Pastor. Sacrificar-se para o bem do rebanho, conduzindo-o para seu rumo correto. Não, não penso que sou uma espécie de Messias, sou apenas uma conseqüência do caos existente no mundo. Dizer que Deus escreve certo por linhas tortas é bobagem, lugar comum. Na verdade o ser humano é que não sabe ler. Se me arrependo do que faço? Claro. Mas alguém tem que fazer o trabalho sujo, não? Estou preso numa redoma de falsidade e mediocridade que eu mesmo criei, estive aqui ontem, hoje; amanhã pago por isso.

- Agora, seu espanto foi algo comum. Você descarregou toda sua munição contra meu peito e nada aconteceu. Quem sou eu? Eu sou O Pastor e creio que respondi a questão que me fez antes de eu enfiar uma bala em sua cabeça. Pena você não ter me ouvido, estava muito a fim de um papo hoje. Quem sabe na próxima.

É o silêncio mais insuportável que alguém poderia imaginar. É tudo o que ouço neste momento. Nada.

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