segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O Pastor em - "Uma visão"

*continuação do texto Calmaria

Anteriormente: O Pastor estranha a falta de movimentação dos bandidos da cidade e resolve correr atrás de pistas. Quentin o desencoraja pedindo para ele relaxar. O Pastor então se envolve com uma morena misteriosa e os dois vão para um Motel.

Abajur
Teto
Travesseiro

Vagabunda.
Sabia que não era confiável. Por que diabos fui cair nessa armadilha. Que erro de imbecil. Com certeza ela já está voltando com uns 100 gorilas pra acabarem comigo. - olho no meu relógio, à mesa de cabeceira - 14 horas? Como ela levantou da cama sem eu perceber? Sem dúvida uma profissional, não no sentido sujo da palavra. Ou sim, sei lá. - Ouço passos na escada.


Vadia.
Por certo já chegaram. - visto-me rapidamente e saio pela janela à esquerda. O sol está rachando forte. Consigo subir pela placa do motel até o telhado. Lá, paro um segundo pra ordenar meus pensamentos. Olho ao longe, procurando a solução. O calor que sobe dos telhados distorce a visão. O bastante pra indicar que esse verão deverá ser dos mais quentes de Mercury City. Mais um motivo pra eu ter ficado em casa, longe desse inferno. Já com os pensamentos mais em ordem, dirijo-me até o beco de trás do Motel, descendo por uma velha escada de emergências. Obviamente, ela quebra quando estou no meio da descida, e me esborracho de costas em uma caçamba de lixo, obviamente. Volto à rua principal do Motel, não sem antes me certificar de que não havia nenhum carro ou pessoa suspeitos.

Segurança.
Vou rumo ao Norte, rumo ao Hot Space. O bairro mais podre da cidade. O meu bairro. Minha mente só pensa em uma coisa. Encontrar aquela mulher. Com certeza alguém no Brady's pode ter essa informação.
Ao chegar, paro um instante buscando por pessoas que pudessem me dar o que eu queria. A verdade é que nesse horário os vagabundos de Mercury City ainda estão dormindo. Só vejo alguns inúteis inofensivos. Talvez com o dono do bar, o Sr. Mustapha. Mustapha Ibrahim é um imigrante árabe que mudou-se para Mercury City há 25 anos. Foi testemunha da ruína completa e absoluta da cidade. Como um bom sobrevivente, se adaptou. Abriu o bar para atender os estivadores do Porto e assim começou a atrair as prostitutas, que atrairam toda a sorte de salafrários, que afastou os estivadores. Mas Mustapha pouco se importa com a clientela, prefere tentar viver. Á parte do nariz, adunco e um tanto avantajado, Mustapha não é aquele árabe que costumamos imaginar. Alto e muito forte, não aparenta os 50 e tantos anos que tem. Comumente vestido de forma muito simples, com uma calça velha de sarja e uma camisa larga de seda que sempre apresenta marcas de suor nas axilas e no peito. Ele se aproxima de mim, cordial.
- Como vai "a" senhor Pastor hoje? - diz, já me entregando um copo de conhaque
- Não, não, senhor Mustapha. Não vou tomar nada de momento. Vim atrás de uma informação.
- Mas claro. Sempre que Mustapha pode "ajuda" vai "ajuda". - Seu rosto toma uma feição de preocupação. Mustapha não gosta de se meter nos assuntos dos frequentadores do bar, porém considera ter uma dívida eterna comigo, de um dia que salvei sua filha de ser estuprada no beco atrás do Brady's. É também por esse motivo que nunca me deixa pagar por nada.
- O senhor lembra-se daquela morena com a qual saí daqui ontem?
- Mas sim, "aquele" "muita" bonita, não?
- Exato. Preciso de qualquer informação que o senhor possa ter.
- Mas veja bem. Mustapha não conhece "aquele" mulher. Não vem "muita" aqui. Já "viu" algumas vezes, mas está sempre "sozinho".

Porcaria.

Eu sei que é verdade. Mustapha não mente pra mim. E se ele não sabe, tampouco vou achar alguém aqui pra me ajudar.
- Grande Ray!
Ou sim.
Reconheço a voz rouca de Quentin atravessando a porta. Ele deixa o chapéu no mancebo ao lado da entrada e se dirige até mim. Sammy vem logo atrás.
- Caiu da cama, Ray? Achei que você ia ficar uns dois dias sem sair do quarto, hã? - Quentin dá uma encostada com o cotovelo na minha barriga, referindo-se àquela mulher. - Hey velho Mustapha, alguma mensagem pra mim no telefone?
Quentin atendia seus clientes diretamente do Brady's. Era bom pra ele, que não mantinha escritório fixo, e era bom para o bar, que mantinha o movimento intenso de apostadores, quase sempre ótimos bebedores.
- Pera ai Quentin dexa eu falar contigo rápido. Aquela mulher que saiu comigo. Você a conhece?
- Já a vi várias vezes, Ray. Mas não sei de nada além do nome, Elizabeth. - Quentin mostrava agora um certo desconforto. - Alguma coisa de errado?
- Tudo. Ela me largou em um Motel no Centro e voltou com uns capangas pra me pegar. Por sorte consegui escapar.
- Porra Ray, você tem certeza? Que merda, cara.
Achei muito estranho a exaltação de Quentin, porém relevei. Mas ao olhar para Sammy, percebo ele me fazendo um discreto sinal . Percebendo sua intenção, dou a deixa.
- Bom, qualquer coisa que acontecer me avise. Vou ver o que faço por enquanto.
Despeço-me de Mustapha e Quentin, e ao passar por Sammy dou um leve aceno com a cabeça que é facilmente entendido. Saio do bar e espero no beco ao lado. Alguns segundos depois, Sammy surge um tanto apressado.
- Senhor Pastor. Eu acho que o senhor deveria ver isso. - ele tira uma fotografia do bolso, a qual mostrava Quentin ao lado de uma mulher. Uma morena muito alta. Muito bonita. Elizabeth.

Filhos da puta.
Jogo a foto no chão e volto apressado ao bar. Quentin está falando ao telefone. Com um empurrão jogo-o para longe, ele tropeça e cai no chão aturdido.
-Calma Ray, qual o seu problema?
- Meu problema? Desgraçados como você! Esse é o meu problema. Só não gasto uma bala em você porque seria um desrespeito com Rita. Você não merece.
Levanto-o pelo colarinho e com um soco muito forte derrubo-o de novo.
- Pe-pera aí Ray, deixa eu explicar. - O sangue começa a escorrer de seu nariz.
- O Diabo, Quentin. Só me fala onde eu vou achá-la. Rápido.
- Não faça isso, cara, você não enten... - com um chute na cara, corto sua frase ao meio.
- Eu disse: Rápido!
- No Machines, cara. Ela trabalha em um galpão no Machines. O galpão da Aços Works. Mas eu te peço...
- Cala a boca, miserável. Se estiver mentindo, vou cortar cada pedacinho do seu corpo. E vou fazê-lo assistir a tudo.
Saio rapidamente pela porta e deixo Quentin sangrar. Mais tarde resolvo o que fazer com ele. Meu problema agora é outro. Dirijo-me a um taxi que está parado em frente ao porto e entro.
- Galpão da Aços Works, no Machines. Voando.

Rápido.
O táxi sai cantando pneu no asfalto quente da rua Innuendo rumo ao Machines. O Machines é um bairro vizinho ao Hot Space, onde se situava a gigante indústria Machines' World, que faliu após a prisão do dono da fábrica, Don Luca Valentino, que usava toda a estrutura que tinha em benefício do crime organizado. Após o fechamento da fábrica, todos os galpões foram revendidos entre pequenas indústrias, formando o bairro industrial que recebe o nome da antiga empresa, Machines.
O táxi chega logo ao destino, pago mais do que a corrida pedia, mas é um bônus pela rápida direção do motorista. Dou uma breve olhada ao redor procurando por algo supeito, mas está tudo calmo. Muito calmo. A porta principal do Galpão está entreaberta. Dou algumas batidas e entro. Um vigia se aproxima.
- Pois não?
- Vim encontrar alguém. A senhorita Elizabeth, sou um velho amigo.
- Elizabeth Valentino? - o vigia parece estranhar
Merda. Onde eu fui me meter. Não tinha mais como voltar atrás. Tento pegar Rita no coldre, porém o vigia se adianta e me acerta com um porrete. Desequilibrado caio para trás. Ele me dá mais uma cacetada. Minha visão fica turva. Antes de desmaiar, vejo pessoas se aproximando.

Pés
Sangue
Escuro

Traidor.

*continua...

No próximo episódio:
-Apague a luz e conte-me uma história sobre a ruína de um homem, que eu te falarei sobre desejos sombrios e falsidade. Você me fala sobre suas ações , vontades e fraquezas e eu vou dizer como é o caminho a seguir. Só você sabe como o homem chegou ao fim, mas só eu sei como a história vai terminar.