sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Divagação: paquidermes e caminhos

Caro leitor. Peço sua atenção para a história que vou lhe contar. Antes de tudo, sugiro uma canção para acompanhar. Dê play em “Strawberry Fields Forever”. Ouça as notas iniciais e deixe a melodia te guiar daqui pra frente.

O jovem que temos sentado à beira d’água esteve caminhando há um bom tempo. Ele sente que esse é o caminho correto, com certeza. Mas continua sem saber onde vai dar. Olhando o reflexo do sol na água, ele fecha os olhos. E ele hesita...

(Faço uma pausa aqui pra que você preste atenção nesse trecho da música que indiquei:
“Living is easy with eyes closed
Misunderstanding all you see
Its getting hard to be someone, but it all works out
It doesnt matter much to me”
Agora voltemos à história)

Após os momentos de incerteza ele reabre os olhos. Por um instante, ele vê o seu futuro na água.

E olhando pro futuro, lembra-se do passado. Dos que o acompanharam, que se perderam no meio do caminho. Lembra-se de uma, que o concedeu a força pra continuar por algum tempo, em corpo presente. E agora ela o encoraja de longe, talvez sem nem saber que assim o faz. Talvez ela esqueceu, quem sabe? Confuso, ele volta a caminhar.

Após algum tempo depara-se com uma grande montanha. Tenso, olha em direção ao cume e suspira... tem uma subida difícil pela frente.
No meio da subida, o corpo amolece, a cabeça gira. Ele teme que sua jornada esteja ameaçada. Cai de joelhos no chão de terra e pedra. Quando ajoelhado, chora lembrando do que passara. (veja, caro leitor, que o nosso herói comete um erro comum a todos nessa situação. Desesperado, ele não pensa em alternativas pra seguir o caminho. Somente lamenta.)

Mas veja! A sorte sorri novamente para o nosso sofrido protagonista. Aos poucos, uma manada de homens elefantes se aproxima do rapaz. Tomados de compaixão pelo estranho decomposto em lágrimas, o levantam e carregam-no no colo sem dizer uma palavra. Abismado, assustado, extasiado, aliviado, o jovem desmaia nos braços dos homens elefantes.

(Creio nesse instante que a música já tenha terminado. Peço então que coloque “The Fool on the Hill” pra tocar.)

Ao acordar, o bravo caminhante se depara com uma das visões mais lindas que já viu. Perceba mais uma vez os olhos marejados. Desta vez, são as lágrimas do dever cumprido. Ele está no topo da montanha. Os homens elefantes ainda estão ao seu lado, sorridentes. Ele agradece muito e dá alguns passos em direção à beira do penhasco que se apresenta à sua frente. Ele agacha e se coloca numa posição confortável... Seus olhos buscam o horizonte. Sua alma, o infinito.
De um lado, ele vê todo o caminho que percorreu até aqui. Do outro, tudo o que ainda tem pela frente. Ele passa o dia inteiro olhando maravilhado toda a beleza da Criação. Ao entardecer, os homens elefantes se reaproximam e põe as mãos (patas?) em seus ombros, como que dizendo: “- Vai em frente, garoto. Você chega lá. Estamos contigo nessa!”. A noite cai.Nessa hora você deve ouvir “Here Comes the Sun”


Depois de acampar durante a noite no cume da montanha, o guerreiro desperta revigorado no dia seguinte. Ele está sozinho novamente, mas se sente acompanhado pela garra e vontade dos paquidermes que o salvaram na noite anterior. O ar fresco enche o seu pulmão de vida e ele dá o primeiro passo pro resto de sua caminhada. Seus passos seguintes são seguros, decididos, já que a cada metro vencido, a cada desilusão esquecida, a cada montanha ultrapassada, ele relembra as palavras amigas dos homens elefantes. Pois ele carrega no peito a promessa feita de que eles sempre estarão por lá.

E os elefantes nunca esquecem.
*O meu agradecimento a todos os homens (e mulheres) elefantes que me levam a subir montanhas por aí
** Fotos minhas (com exceção Foto 2 de Márcio Brigo e foto 5 que não me recordo de quem é)